O abdômen, assim como qualquer outra cavidade do nosso corpo, tem seus limites e revestimento próprios. A cavidade abdominal, entretanto, não é absoluta e hermeticamente fechada, de forma que existem passagens (aberturas) naturais, que permitem conexão e funcionamento de diversos sistemas orgânicos. Como exemplo, existe o hiato diafragmático por onde passa o esôfago e permite condução do alimento deglutido até o estômago, no abdômen. Na região inguinal, também, existem os canais inguinais, que permitem comunicação entre os órgãos do aparelho reprodutor, notadamente no homem.
Então, caso uma dessas passagens naturais sofra um alargamento ou haja uma descontinuidade do revestimento musculoaponeurótico, seja por cirurgia, trauma ou fragilidade, o conteúdo intra-abdominal começa a se exteriorizar por esses locais, principalmente quando a pressão do abdômen aumenta, seja por esforço físico ou ganho de peso (acúmulo de gordura). O conteúdo exteriorizado pode ser somente tecido adiposo ou, em circunstância mais preocupante, pode extravasar segmentos do intestino. Nesta situação, há risco de complicações como encarceramento ou estrangulamento, em que uma perfuração ou obstrução intestinal configuram complicações mais graves.
Diante disso, quase sempre há indicação de correção cirúrgica (cirurgia de hérnia), principalmente quando a herniação está causando dor ou desconforto.
Agora falando sobre a cirurgia de hérnia (herniorrafia ou hernioplastia), deve-se salientar que muitas são as técnicas e variáveis para uma adequada programação cirúrgica. Uma consulta médica com cirurgião de confiança é fundamental, onde serão abordadas junto com o paciente alternativas de tratamento e detalhes de cada técnica cirúrgica.
Atualmente, existem casos em que a cirurgia convencional (por incisão de tamanho proporcional ao da hérnia) é a melhor escolha. Em alguns casos, a síntese por sutura (herniorrafia) é o suficiente. Em outros casos, há indicação formal para uso de telas (hernioplastia) reduzindo o risco de recidiva em alguns casos. A posição da tela pode variar dependendo da hérnia, do paciente e das condições técnicas intra-operatórias. Ela pode ser abaixo do plano musculoaponeurótico (tela sublay), pode fazer uma ponte conectando suas margens (tela inlay) ou pode ficar acima do plano musculoaponeurótico (tela onlay).
As complicações existem, como em qualquer tratamento cirúrgico, e o risco varia de 0,1% até 10% dos casos, como mostram estudos. Podem variar desde simples alterações na ferida cirúrgica, como hematoma, seroma, inflamação/infecção, até situações mais incômodas como inguinodinia ou dor crônica, deiscência e recidiva da hérnia. Todas elas possuem cuidados e tratamento, que devem ser estabelecidos por um cirurgião cuidadoso.
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